Porque são os CFO tão importantes nos planos de sustentabilidade das empresas?

Maria Ana Barroso
Maria Ana trabalhou mais de quinze anos no jornalismo económico, sobretudo nas áreas de banca e seguros. E fez também assessoria de imprensa e comunicação no setor financeiro. Hoje é freelancer na área dos conteúdos económicos.

Pode não parecer evidente à primeira vista. Mas, sim, o ‘Chief Financial Officer’ (CFO) é hoje fundamental para uma gestão verdadeiramente sustentável e em que o cuidado com o impacto ético e ambiental da atividade está estruturalmente embrenhado na cultura das empresas.

A este maior protagonismo dos CFO não é alheio o facto de a opinião pública, assim como o poder político e a sociedade de uma forma geral, estarem muito mais atentos e exigentes quando falamos em sustentabilidade,governance e preocupações ambientais. É, por isso, da maior importância que as equipas de gestão levem muito a sério esta área e não se limitem a dar-lhe uma atenção meramente superficial.

Para tal, desempenho financeiro e sustentabilidade devem estar alinhados. Os CFO são, neste contexto, cada vez mais chamados a participar na gestão e fiscalização das atividades que, nas empresas, estão relacionadas com esta área.

Alguns analistas têm chamado a atenção para o facto de, em muitas empresas, o trabalho dos CFO continuar ainda demasiado focado exclusivamente no que são os indicadores financeiros e numa performance que gira apenas em torno da rentabilidade e da eficiência. O grande senão desta abordagem reside na crescente evidência de que o valor de uma empresa deixou há muito de se resumir ao seu balanço e demonstrações financeiras.

O cumprimento de requisitos não financeiros – onde se incluem os relacionados com a sustentabilidade – por parte de uma empresa implica o envolvimento dos vários departamentos das organizações, caso da contabilidade, relações com investidores, marketing ou recursos humanos. Pelo conhecimento abrangente que têm das diferentes áreas de uma empresa, o envolvimento dos CFO nestas ‘novas’ questões é não só um passo natural como algo benéfico para a empresa.

Acresce que, precisamente porque sabemos que, no final, as empresas existem para gerar lucros e distribuir resultados, os CFO são inevitavelmente quem tem as ferramentas para alinhar metas de sustentabilidade e objetivos de rentabilidade. Sem que ambas sejam conjugadas e sem que toda a empresa esteja alinhada no mesmo sentido, é certo e sabido que algo se irá perder pelo caminho, com todos os riscos que isso acarreta.

Como passar da teoria à prática

Explicadas as vantagens de envolver os CFO na política de sustentabilidade das empresas, como pode este objetivo ser posto em prática?

Em primeiro lugar, parte importante de um verdadeiro comprometimento da empresa com as práticas sustentáveis passa por garantir que o CFO (e respetiva equipa) está efetivamente a par da regulamentação nesta área, assim como dos critérios que delimitam políticas empresariais adequadas. Este será seguramente um fator que sinaliza credibilidade. Um CFO que não tem as ferramentas para ser capaz de verificar métricas de sustentabilidade não conseguirá ir de encontro às expectativas quer dos investidores quer da própria equipa de gestão, o que pode comprometer o sucesso da implementação deste tipo de práticas nas empresas.

Reunir e tratar tudo o que são dados da empresa relacionados com a sustentabilidade para ser capaz de prestar informação a investidores e outros stakeholders que a possam solicitar é igualmente importante. Contar ainda com ferramentas que permitam incorporar indicadores de sustentabilidade em estruturas ERP (‘Enterprise Resource Planning’) facilita o processo de verificação em auditorias.

Outra medida que pode fazer toda a diferença nas práticas de uma organização é a introdução de critérios de sustentabilidade na avaliação do desempenho da gestão enquanto incentivo para a mudança.

Introduzir mecanismos de controlo interno dos indicadores de sustentabilidade (e outros não financeiros) e promover a introdução da noção de que os riscos de incumprimento nesta área têm, efetivamente, consequências materiais são igualmente iniciativas a considerar.

Sejam estas ou outras as medidas a implementar, o importante é que as empresas percebam a necessidade de ampliarem o âmbito de intervenção dos seus CFO para incluir a sustentabilidade. Pela sua natureza, os departamentos financeiros e de compliance serão sempre forças promotoras de mudança e transformação, fundamentais no processo de garantir que esta é uma missão ‘abraçada’ por todos na empresa e que este objetivo é estrutural.

Independentemente do setor em causa ou do modelo de negócio, a sustentabilidade é hoje incontornável e pode ser mesmo um dos fatores centrais de sucesso e uma vantagem competitiva das empresas. Nenhum gestor pode dar-se ao luxo de a ignorar. E os CFO estarão seguramente entre os atores principais desse caminho.

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