Transformar a cadeia de fornecimento: a inteligência artificial e a tecnologia blockchain explicadas

Asavin Wattanajantra
Asavin é especialista em tecnologia de informação e inovação para PME.

A globalização tem sido um importante fator e tem tido uma grande influência sobre o desenvolvimento económico ao longo das últimas décadas – e, no domínio da produção, terá certamente desempenhado um papel no sucesso das empresas.

Saberá reconhecer que o comércio global se baseia num paradigma de longas cadeias de fornecedores globalmente distribuídos. Também compreenderá que um produto acabado é um conjunto de várias partes, sendo que muitas das partes são fabricadas fora das paredes da sua empresa.

Olhemos para um fabricante de automóveis baseado nos Estados Unidos, por exemplo. Entre 70 e 80% das peças utilizadas no fabrico de um carro são produzidas no exterior, frequentemente em várias partes do mundo, como a China e a Europa.

É por isso que uma pandemia como a do coronavírus pode ser tão prejudicial para um fabricante. Entre as questões que o podem afetar incluem-se a carência de materiais, de mão-de-obra e de fornecimento e os desafios logísticos.

Mesmo antes da chegada do coronavírus, as cadeias de fornecimento globais estavam a ser afetadas pela guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, que obrigou as empresas americanas a reestruturar as suas cadeias de fornecimento, de forma a não estarem tão dependentes da China.

Jeremy Goodwin é o fundador e Diretor Executivo da SyncFab, uma empresa que desenvolve aplicações de cadeias de blocos para a gestão descentralizada de cadeias de fornecimento. Ele afirma que o coronavírus acentuou os problemas de dependência da produção em relação às longas cadeias de fornecimento, sobretudo nos casos em que é necessário responder rapidamente.

Diz Goodwin: «O fabrico de equipamento médico, por exemplo, na produção de ventiladores. Um ventilador é feito de cerca de 3 000 partes, muitas das quais eletrónicas. Nos últimos 10 a 20 anos, a China tem cimentado a sua posição enquanto fornecedor competitivo de pequenos componentes elétricos.

A pandemia do coronavírus criou um verdadeiro estrangulamento na disponibilidade de componente críticos, oriundos da China, que são necessários ao fabrico de um ventilador. Isto resultou num novo desenho dos ventiladores e na completa reestruturação do fornecimento desses componentes, que deixaram de ser facilmente fornecidos pelos chineses.

Há uma rede complexa nestas cadeias de fornecimento, porque têm uma estrutura escalonada e intermediários entre o fabricante os fornecedores, bem como camadas de controlos de qualidade e inspeções anuais que respeitam os padrões da indústria.»

Antes do coronavírus e de qualquer guerra comercial, os responsáveis pelos contratos no setor da produção eram também incapazes de transmitir plena confiança nas suas equipas de aquisições e na capacidade vital de encontrarem as partes externas necessárias ao fabrico dos seus produtos.

No Inquérito da Deloitte aos Responsáveis pelos Contratos, referente a 2019, mais de metade dos responsáveis acreditavam que o risco da aquisição estava a subir, alimentado pela desaceleração económica. É provável que este valor seja significativamente superior neste momento.

A investigação revelou que os responsáveis pelas aquisições estavam concentrados em conseguir negócios competitivos com novos fornecedores e renegociações de contratos com fornecedores existentes para atingir reduções de custos e reduzir o risco financeiro.

Reavaliar e redesenhar a cadeia de fornecimento

O coronavírus realçou aspetos complexos das atuais, grandes e pesadas cadeias de fornecimento. Este é um tempo de transformação digital e de maior rapidez nos requisitos de tempo de comercialização. Talvez se estejam a perguntar que soluções existem para encurtar as cadeias de fornecimento e torná-las mais ágeis, por via do acesso a dados transparentes dos fornecedores.

Uma forma de o fazer passa por analisar os fornecedores locais, a que pode recorrer em caso de uma emergência e como medida provisória, em particular se identificar falhas nas suas relações com os fornecedores de longa data.

Talvez queira procurar acesso a componentes mais perto do ponto em que são desenhados, produzidos e montados, o que encurtará o tempo de fabrico e de distribuição. Também permitirá criar uma colaboração mais estreita entre os engenheiros de produção e os fornecedores, sobretudo quando houver quebras contratuais.

É certo que redesenhar toda a sua cadeia de fornecimento é uma tarefa complexa. Mas dispor de redundâncias no que diz respeito ao fornecimento, à produção e à distribuição significa reduzir o risco de que a sua cadeia de fornecimento seja perturbada.

As fontes de fornecimento primárias e secundárias devem idealmente estar longe uma da outra. Isso reduzirá o seu risco, ainda que possa conduzir a um aumento dos custos.

Do mesmo modo, ter instalações de produção perto de fontes de fornecimento distribui o risco e diminui os custos com o transporte

Transformar a sua cadeia de fornecimento

No que se refere à cadeia de fornecimento, a transformação digital acrescenta valor, ao criar uma resposta mais dinâmica entre os departamentos de aquisição dos fornecedores e dos fabricantes.

Precisa de analisar os sistemas integrados de gestão empresarial de que o seu departamento informático dispõe, verificando se servem o propósito e se estão dentro dos parâmetros orçamentais dos departamentos de aquisições, que têm calendários de produção apertados e prazos, bem como requisitos de qualidade. O departamento de informática e o de aquisições têm de falar a mesma língua e têm de experimentar a tecnologia da transformação digital sem que isso tenha um impacto negativo sobre o domínio da produção.

Nestes tempos marcados pela pandemia, é chegado o tempo de olhar para a transformação digital e para a  Indústria 4.0  com vista a garantir que o seu negócio se mantém competitivo, eficiente e produtivo. No final de contas, o cenário ideal seria o de uma cadeia de fornecimento ligada em tempo real, que o ajudasse a perceber o estado da produção. Deve também prestar atenção à sua capacidade de realizar contratos inteligentes e pagamentos com  a inteligência artificial (IA) e a aprendizagem automática, que pode fazer corresponder dados de forma ideal entre os fabricantes e os fornecedores.

Outra tecnologia que deve considerar são as cadeias de blocos. Com a tecnologia de cadeias de blocos, os ecossistemas podem partilhar e concordar sobre informação crucial sem qualquer intermediário. As cadeias de blocos sincronizam todos os dados e transações numa rede, com os participantes a verificar o trabalho e os cálculos dos outros.

Muitos observadores pensam que as cadeias de blocos oferecem melhor segurança do que as soluções informáticas convencionais, como as firewalls e a autenticação em múltiplos fatores.

Jeremy Goodwin concorda: «Ao passo que a IA pode apoiar a correspondência de dados na cadeia de fornecimento, as cadeias de blocos tratam da segurança, da formatação e da arquitetura da captação de dados – a canalização segura, se quisermos, entre as extremidades da cadeia», afirma Goodwin.

As cadeias de blocos aumentam a transparência dos dados, permitindo que os fornecedores mostrem aos fabricantes que têm as certificações necessárias, os requisitos de qualidade, a capacidade e os recursos para produzir uma determinada peça. Trata-se essencialmente da verificação dos fornecedores e da autenticação de produtos.

«Um produto acabado é composto por várias peças. Trata-se de acompanhar o ciclo de vida daquela peça do momento em que é desenhada até ao momento em que é produzida, inspecionada, expedida e instalada.

A autenticação surge nas indústrias transformadoras, como a aeroespacial, de automóveis e de equipamento médico. Tem também tido um papel cada vez mais relevante nas disputas entre indústrias com uma elevada intensidade de propriedade intelectual que usam cadeias de fornecimento internacionais com múltiplos níveis.»

Apesar de o uso das cadeias de blocos ser ainda limitado para a transformação da cadeia de fornecimento, o coronavírus forçou os fabricantes a considerar investimentos alternativos de infraestruturas digitais que possam mitigar futuros riscos e trazer vantagens.

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