A transformação digital é compatível com a transformação sustentável das empresas?
Datacenter, Internet, hardware… A pegada ambiental da tecnologia digital é, por si só, responsável por quase 2% das emissões de gases com efeito de estufa (GEE), o que equivale às emissões do setor da aviação.
Se não tivermos cuidado, este número poderá atingir praticamente 7% em 2040, de acordo com um recente estudo sobre a pegada ambiental da tecnologia digital, realizado a pedido do governo francês. Assim sendo, será que a transformação digital das empresas é de facto compatível com os nossos compromissos em termos de desenvolvimento sustentável? A resposta é sim, e até é uma forma promissora de os cumprir. Explicações.
Dois desafios inseparáveis
O digital não é apenas sinónimo de poluição ambiental. Pode também ter impactos positivos no desenvolvimento sustentável, tal como a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen recordou em 19 de fevereiro de 2020 quando apresentou o seu roteiro para “moldar o futuro digital da Europa”. A Presidente salientou que até 2050 “a transformação verde e a transformação digital serão dois desafios inseparáveis”. Para combater mais eficazmente as alterações climáticas e proteger o ambiente, os membros da União são agora convidados a “tirar partido da inteligência artificial, do 5G, da “computação na cloud” e da “Internet das Coisas“. “Uma recomendação que se aplica, naturalmente, a todas as empresas da União.
Dados e IA ao serviço do desenvolvimento sustentável das empresas
Redes de energia inteligentes, edifícios interativos, sensores de todos os tipos… Amanhã, o volume de dados gerado será tal que os algoritmos serão capazes de multiplicar as suas capacidades de previsão. Em particular, isto permitirá que a empresa reduza a sua pegada ambiental. Graças à sua capacidade de aprender e processar a massa de dados gerados pelo Big Data, a inteligência artificial permitirá nomeadamente a otimização da utilização dos recursos naturais e a automatização e racionalização do consumo de energia da empresa.
As vantagens do 5G para o desenvolvimento sustentável
Mesmo antes da sua adoção, a tecnologia 5G é contestada; é posta em causa a sua utilidade real e fala-se no seu impacto ambiental. Contudo, o aumento previsto do consumo de energia ligado ao 5G, para o qual o concurso público para as licenças foi relançado, em Portugal, em junho de 2020, deverá também resultar, segundo alguns peritos, num balanço energético positivo para as empresas. Em particular, graças às novas capacidades de processamento de dados que o 5G lhes irá proporcionar.
Eventualmente, dois terços de todos os dados deverão ser gerados o mais perto possível do terreno, particularmente em fábricas e empresas, abandonando-se assim os locais centralizados. O desafio consiste em trazer a capacidade informática para o local onde os dados serão gerados.
A Cloud, uma solução sustentável?
É perfeitamente possível fazer uma utilização informada da Cloud, em particular optando por operadores que oferecem transparência, desempenho energético e indicadores de reporting dos consumos. Esta consciência ambiental pode gerar ganhos ambientais significativos para a empresa, e exigirá também uma maior sensibilização dos utilizadores internos, particularmente no que diz respeito ao impacto ambiental dos seus comportamentos digitais no dia-a-dia.
A ascensão da Internet das Coisas (ioT)
Tal como para o 5G, a ascensão da Internet das Coisas (IoT), particularmente no contexto da indústria do Futuro, deverá permitir às empresas compreender melhor o seu ambiente, melhorar as suas infraestruturas, os seus processos e a sua pegada ecológica. Ao multiplicar o número de sensores conectados, as empresas poderão recolher uma massa de dados úteis, implementando um controlo maior e contínuo da sua atividade e do seu ambiente. Esta informação vai ajudar a tomar decisões que podem ser utilizadas para monitorizar o consumo de energia, melhorar as emissões ou descargas poluentes…
Tecnologias interdependentes
IoT, AI, 5G… Todas as tecnologias de transformação digital estão hoje em dia estreitamente ligadas e são interdependentes. No entanto, para que se desenvolvam e contribuam, nos próximos anos, para o desenvolvimento sustentável de todas as empresas, a grande questão da sua interoperabilidade e segurança terá ainda de ser resolvida.