STEP: Como Portugal pode liderar a nova vaga de investimento em tecnologias estratégicas europeias
Demonstrar como a orientação estratégica do financiamento no âmbito da Plataforma STEP pode acelerar a modernização e competitividade de setores-chave em Portugal.

A orientação do financiamento para os Objetivos da Plataforma STEP é uma oportunidade para Portugal se posicionar como referência em áreas críticas da União Europeia.
Num mundo em rápida transformação, onde a soberania tecnológica se tornou sinónimo de independência económica e competitividade global, a União Europeia lançou a Plataforma Estratégica para as Tecnologias Europeias (STEP) com uma mensagem clara: o futuro constrói-se com inovação, colaboração e visão estratégica.
Ao integrar esta agenda europeia, Portugal tem agora a oportunidade histórica de reposicionar o seu tecido produtivo e afirmar-se como um player ativo nas cadeias de valor tecnológicas do continente europeu.
ÍNDICE DO POST
O que é a plataforma estratégica para as tecnologias europeias (STEP)?
A STEP é um instrumento de política pública europeu, criado para impulsionar o investimento em tecnologias críticas, reduzir dependências externas e acelerar a transição verde e digital. Mais do que um novo fundo, é uma alavanca que agrega onze programas europeus sob um mesmo chapéu estratégico, com uma dotação adicional de 1,5 mil milhões de euros, reforçando a articulação entre financiamento, inovação e desenvolvimento económico.
Este movimento surge num contexto de instabilidade geopolítica, disrupções nas cadeias de abastecimento e competição tecnológica, onde o controlo sobre tecnologias de ponta define a resiliência dos blocos económicos. A STEP responde a estes desafios com uma abordagem tripartida: coordenação de investimento, regulação inovadora e promoção da colaboração transnacional.
Objetivos do STEP para as tecnologias
A plataforma apoia o desenvolvimento e fabrico de tecnologias críticas em três domínios prioritários: tecnologias digitais e deep tech, tecnologias limpas e biotecnologias.
Na vertente tecnológica, o foco está em ultrapassar o “vale da morte” da inovação — o momento em que ideias promissoras falham por falta de capital ou infraestruturas —, promovendo a transição da investigação fundamental para a produção comercial.
Entre as áreas prioritárias estão:
- Microeletrónica e semicondutores
- Inteligência artificial
- Computação quântica e de alto desempenho
- Robótica e conectividade 5G/6G
- Cibersegurança e cloud computing
A ambição da STEP não é apenas científica — é económica e geoestratégica. Pretende-se criar valor dentro da Europa, transformar conhecimento em indústria e posicionar as empresas europeias, incluindo as portuguesas, na vanguarda da inovação global.
Objetivos do STEP para as biotecnologias
A biotecnologia representa um dos pilares mais transformadores da STEP. A meta é clara: posicionar a Europa como líder na produção farmacêutica, acelerar a transição para uma bioeconomia regenerativa e reforçar a autonomia sanitária.
Portugal tem aqui uma janela de oportunidade para escalar competências no cruzamento entre ciência da vida, inteligência artificial e engenharia, consolidando centros de produção descentralizados e promovendo a capacitação científica nacional.
Exemplos europeus que inspiram
Plataformas como a SPEEDCELL, para produção acelerada de vacinas e anticorpos, e a RoboPharma, com linhas de fabrico farmacêutico robotizadas e descentralizadas, mostram como a STEP está a financiar soluções tecnológicas de elevado impacto. Embora ainda não haja participação portuguesa nestes projetos, são exemplos claros da ambição do programa: aproximar a Europa da liderança mundial em produção tecnológica e biomédica.
Mecanismos e sinergias chave
Uma das inovações estruturantes da STEP é o Selo de Soberania — um rótulo europeu que distingue projetos com elevado alinhamento estratégico. Este selo agiliza o acesso a fundos, aumenta a visibilidade junto de investidores e permite percursos de candidatura “fast-track”.
A STEP introduz também flexibilidade na aplicação dos fundos da política de coesão, permitindo candidaturas de grandes empresas (inclusive a título individual), aumentando as taxas de cofinanciamento em regiões menos desenvolvidas e promovendo a copromoção com universidades, startups e centros tecnológicos.
Implementação do STEP em Portugal
Portugal está a alinhar os seus instrumentos financeiros com a lógica da STEP. Em 2025, estão programados dois avisos com objetivos STEP, com dotação total de 710 milhões de euros:
- SICE – Inovação Produtiva – STEP Digital e Biotecnologia: Projetos de investimento que incorporem conhecimento e tecnologias críticas no processo produtivo, dinamizando cadeias de valor alargadas, com potencial de aumentar a produtividade, a competitividade e a internacionalização das empresas.
- SIID – I&D&I Empresarial – STEP Digital e Biotecnologia: Projetos empresariais que combinem investigação, desenvolvimento e inovação, incluindo desenvolvimentos em TRL (Nível de Maturidade Tecnológica) mais avançados — do protótipo à produção comercial de tecnologias críticas.
A abertura das candidaturas está prevista para o 3.º quadrimestre de 2025, prolongando-se até ao 2.º quadrimestre de 2026, sendo fundamental iniciar desde já a antecipação de projetos e parcerias.
Impacto esperado e perspetivas
Estes concursos serão um teste à capacidade nacional de mobilização de agentes económicos e científicos. São também uma oportunidade para redefinir o papel das grandes empresas portuguesas, frequentemente ausentes dos instrumentos europeus, e integrá-las numa estratégia de transformação tecnológica.
A STEP não é um programa para cumprir metas. É uma visão para redesenhar o papel da Europa no século XXI. Para Portugal, pode significar um novo ciclo económico baseado em inovação científica, industrialização de tecnologias emergentes e valorização do talento.
Empresas, universidades e decisores políticos devem encarar a STEP como um desígnio nacional. Com visão de longo prazo e envolvimento coletivo, é possível posicionar o país como um pilar tecnológico europeu para as próximas décadas.