Brexit: fazer negócios em tempos de incerteza
A cerca de duas semanas do Brexit, marcado para 31 de outubro, a única realidade palpável de que as empresas dispõem nesta altura é, até prova em contrário, a perspetiva de uma saída da União Europeia (UE) sem acordo. Por outro lado, a haver acordo, não se conhecem os moldes do mesmo, uma vez que […]

Face a este cenário de incerteza, as empresas têm sido aconselhadas a precaver-se o mais possível. Ainda que este seja um momento histórico, desde que a União Europeia se começou a formar que não há registo de um país ter alguma vez abandonado esta comunidade de países. Ora, não há nada a que os mercados sejam mais avessos do que à incerteza. Por outro lado, há que ter em conta que o grosso do tecido empresarial português é composto por empresas de pequena ou média dimensão, com menos estrutura para responder a imponderáveis de tão grande monta.
Para as empresas do espaço europeu que têm relações comerciais com o Reino Unido, um Brexit sem acordo significa lidar com o fim da livre circulação de bens, serviços e pessoas sem qualquer transição e com despesas até agora inexistentes em custos alfandegários, fiscais e outros, o que irá onerar quer a compra quer a venda de bens e serviços ao (e do) Reino Unido.
Por outro lado, são de esperar muitas entropias na circulação de mercadorias com o fecho das fronteiras, o que pode traduzir-se em atrasos no envio de mercadorias ou receção de matérias-primas importadas, e não necessariamente por terem sido produzidas no Reino Unido. Basta que o centro logístico de um dado produto esteja localizado em terras britânicas.
Quando falamos de trocas comerciais, a questão cambial é chave. Neste caso o Brexit e, mais ainda, a indefinição em torno dos contornos do mesmo, tem afetado a libra esterlina, com consecutivas desvalorizações face ao euro. Ora, com uma moeda mais fraca, os produtos britânicos, mais baratos, ganham competitividade em termos de custo, o que não é vantajoso para as empresas dos restantes países europeus que com elas concorram. Mas não é apenas nas relações comerciais entre os países – nomeadamente entre Portugal e o Reino Unido – que os efeitos se farão sentir.
As dificuldades podem verificar-se em matérias como a contratação de portugueses no Reino Unido ou de cidadãos portugueses em Portugal, os apoios públicos, os transportes e logística, as patentes, direitos de autor e marcas registadas dos produtos, a transferência de dados ou o mútuo reconhecimento de qualificações e licenciamentos, entre tantas outras. Em algumas áreas pode ser preciso encontrar fornecedores alternativos ou deslocalizar unidades de negócio. Acresce que, uma saída da União Europeia pode ter consequências para o investimento direto em Portugal vindo do Reino Unido.
Depois, para Portugal, o Reino Unido não é um país qualquer. Por um lado, é o quarto maior mercado para onde as empresas nacionais exportam e possui um nível de poder de compra faz dele um mercado particularmente atrativo. Em 2018, as exportações portuguesas para o Reino Unido chegaram aos cerca de 3.673 milhões de euros, quase o dobro do valor gasto por Portugal em importações daquele destino, que atingiram os 1.901,4 milhões de euros.
Ainda assim, nem tudo tem de ser necessariamente negro no pós-Brexit. As dificuldades de uns são oportunidades para outros e isso pode querer dizer que, no espaço europeu, podem surgir oportunidades de negócio para as empresas que permanecem na UE em setores ou mercados onde as empresas britânicas passarão a ser muito menos competitivas.