Dinheiro e Poupança

Como elaborar passo a passo o diagnóstico financeiro de uma empresa

Um bom diagnóstico financeiro é fundamental, tanto para o crescimento da empresa como para a sobrevivência de qualquer negócio.

A importância de um bom diagnóstico financeiro poderá comparar-se ao diagnóstico precoce de uma doença, a qual, quando detetada a tempo, será mais fácil de curar.

  • Explicamos a seguir em que consiste um diagnóstico financeiro e qual o seu principal objetivo.
  • Aprenda passo a passo como elaborar o diagnóstico financeiro da sua empresa e analisar os resultados.

Um bom diagnóstico financeiro é fundamental, tanto para o crescimento da empresa como para a sobrevivência de qualquer negócio.

No entanto, não deve ser deixado nas mãos de qualquer pessoa. Do mesmo modo que, voltando à comparação com o diagnóstico médico, não deixamos a nossa saúde nas mãos de qualquer pessoa.

O diagnóstico financeiro tem de ser fiável. E, se possível, deve ser automatizado através da utilização de um software de contabilidade, para facilitar a determinação dos principais rácios que se costumam utilizar na sua elaboração.

O que é um diagnóstico financeiro e qual o seu objetivo?

Poderemos definir o diagnóstico financeiro de uma empresa como a análise da informação fornecida pela contabilidade, para determinar a situação económica da empresa.

objetivo de qualquer diagnóstico financeiro é determinar a situação financeira da empresa através da medição de valores como:

A medição destes valores é efetuada com o objetivo de obter informações relevantes que facilitem a tomada de decisões.

Que passos devem ser dados para elaborar um diagnóstico financeiro?

Para a elaboração de um diagnóstico financeiro completo, podem ser dados os seguintes passos:

  • Análise preliminar para determinar o objetivo da análise e os principais valores a determinar.
  • Análise do balanço e da conta de resultados.
  • Cálculo e interpretação dos principais rácios financeiros e contabilísticos.
  • Consulta do relatório de atividades, do relatório de auditoria e do relatório de gestão.
  • Cálculo e interpretação do EBITDA.
  • Cálculo do fundo de maneio e análise do seu resultado.
  • Análise do fluxo de caixa (cash flow) da empresa.
  • Análise final do diagnóstico financeiro e conclusões.

1. Análise preliminar para determinar o objetivo da análise e os principais valores a determinar

Antes de elaborar o diagnóstico financeiro, deve determinar-se:

  • objetivo da análise a efetuar.
  • As informações necessárias para elaborar o diagnóstico.
  • O software de contabilidade que se vai utilizar.
  • E como serão transferidos os dados do diagnóstico financeiro para os seus utilizadores. Por exemplo, num painel de controlo ou dashboard contabilístico, através de gráficos, mapas conceituais, etc.

2. Análise do balanço e da conta de resultados

Para elaborar o diagnóstico financeiro da organização, o mais importante é dispor de informações financeiras atualizadas e normalizadas. Principalmente das demonstrações financeiras comparativas de dois períodos consecutivos.

Assim sendo, as principais fontes de informação para a elaboração do diagnóstico financeiro são:

  • Balanço. Trata-se de uma fotografia do estado financeiro de una empresa numa determinada data. Permite ver rapidamente o que a empresa possui (ativo), o que deve (passivo) e o seu capital (património líquido).

Se se souber ler um balanço, pode ver-se se a estrutura financeira da empresa é adequada. Além de se perceber, por exemplo, se os ativos mais líquidos que a empresa tem são suficientes para fazer face aos vencimentos das dívidas de curto prazo.

  • Conta de resultados ou de ganhos e perdas. Trata-se de um instrumento para analisar a posição económica de uma empresa. A conta de ganhos e perdas resume todas as receitas e despesas geradas por uma organização durante um exercício contabilístico. Nesta conta, é possível analisar-se a capacidade da empresa para gerar lucros e a sua estrutura de receitas e despesas.

3. Cálculo e interpretação dos principais rácios financeiros e contabilísticos

Os rácios financeiros ou contabilísticos são coeficientes que fornecem unidades financeiras de medida e comparação. Através deles, estabelece-se a relação apresentada pelos dados financeiros e é possível analisar o estado de uma organização com base nos seus níveis ideais..

Os rácios podem dividir-se em económicos e financeiros. Com eles, podem comparar-se os pontos fortes e fracos das empresas. Além de se perceber a sua evolução ao longo do tempo.

Por outro lado, os rácios devem refletir-se num painel de controlo de fácil acessibilidade para facilitar a tomada de decisões.

Ao efetuar uma análise de rácios, devem ser analisados outros fatores. Uma vez que, por si só, o resultado de determinados rácios pode induzir-nos em erro nas nossas análises. É, por isso, fundamental ter em conta o tipo de negócio, a sazonalidade e o setor a que a empresa pertence.

Os rácios contabilísticos fornecem uma avaliação quantitativa. No entanto, é fundamental saber interpretá-los e extrair deles uma análise qualitativa que facilite a tomada de decisões por parte do empresário e/ou dos gestores.

Rácios utilizados no diagnóstico financeiro (e como interpretá-los)

Eis alguns dos principais rácios utilizados para elaborar um diagnóstico financeiro:

  • Rácio de liquidez: é semelhante ao fundo de maneio, dado que mede a capacidade da empresa para fazer face aos seus compromissos a curto prazo.

FM = Ativo corrente/Passivo corrente

O seu resultado deverá ser superior a um. Dado que há uma parte do ativo corrente (como o stock de segurança ou o saldo mínimo necessário disponível) que, devido à sua importância no processo de produção, deve ser financiada com capital permanente. Em todo o caso, a sua análise por si só pode induzir em erro. Isto porque pode haver empresas solventes com um rácio inferior a um.

  • Rácio de tesouraria ou coeficiente de liquidez imediata (RT): mede as possibilidades de fazer face às obrigações de pagamento a curto prazo. O seu valor ideal situa-se entre 0,1 e 0,3. Acima de 0,3 pode produzir-se um excesso de liquidez da empresa, que pode afetar a sua rentabilidade.

Calcula-se através da seguinte operação:

RT = Ativo disponível (tesouraria e investimentos financeiros temporários) + Realizável/Passivo corrente

  • Rácio de autonomia financeira (RAF): estabelece a relação entre os recursos próprios líquidos e as dívidas totais e indica a composição estrutural das fontes de financiamento. Este rácio mede a autonomia ou independência financeira e tenta conhecer o nível ideal de endividamento de uma empresa.

A sua fórmula é:

RAF = Recursos próprios líquidos/Recursos de terceiros

  • Período médio de cobrança

Mede o número de dias que decorrem, em média, até à cobrança aos clientes. Do ponto de vista do ciclo de exploração, fornecer-nos-á a informação sobre quantos dias decorrem desde que vendemos um produto até se consolidar a cobrança. Também podemos interpretá-lo como o número de dias durante os quais financiamos os nossos clientes. Eis a maneira de calcular este rácio:

  • Prazo médio de cobrança = (Saldo médio de clientes/Vendas) x 365 dias

Se o setor em que se aplica este rácio for muito sazonal, deverá calcular-se por períodos, a fim de obter a informação mais objetiva possível. Quanto mais elevado for o valor deste rácio, tanto maior será o volume de recursos indisponíveis da empresa.

  • Período médio de pagamento: mede o número de dias que se demora a pagar aos fornecedores. E é, consequentemente, a relação entre o saldo médio das contas a pagar e as compras diárias.

Calcula-se através da seguinte fórmula:

Período médio de pagamento = (Saldo médio de fornecedores/Compras) x 365 dias

Quanto mais elevado for o valor deste rácio, mais demora o pagamento aos fornecedores. O que revela que a empresa está a financiar-se com esses fundos.

  • Rentabilidade económica: mede a capacidade de o ativo gerar lucro, independentemente da composição da estrutura financeira da empresa. Também pode definir-se como a rentabilidade do ativo, ou o lucro que este gerou por cada euro investido na empresa.

Obtém-se com a seguinte fórmula:

RAJ = Resultados antes de juros e impostos/Ativo total

  • Rentabilidade financeira: mede a capacidade da empresa para remunerar os seus acionistas. Representa o custo de oportunidade dos fundos que se mantêm na empresa, em relação ao custo do dinheiro ou investimentos alternativos. Estabelece a relação entre o benefício económico e os recursos necessários para obter esse lucro.

O rácio para o seu cálculo é:

ROE = Resultado líquido após impostos/Fundos próprios

4. Consulta do relatório de atividades, do relatório de auditoria e do relatório de gestão

Por outro lado, é muito importante que, ao elaborar o diagnóstico financeiro de uma empresa, nos baseemos em elementos como o relatório de atividades, o relatório de auditoria e o relatório de gestão.

  • relatório de atividades divulga e comenta as informações contidas nos outros documentos que constituem as contas anuais. Apresenta pormenorizadamente determinadas rubricas do balanço e da conta de resultados. Tudo isto com o objetivo de facilitar a compreensão da situação patrimonial da empresa e dos seus resultados e conhecer a sua respetiva aplicação.
  • Relatório de auditoria. O relatório de auditoria, para além de avaliar a situação económica da empresa, permite certificar a veracidade das demonstrações financeiras. O auditor, após a auditoria da contabilidade e das contas anuais da empresa, elabora um relatório de auditoria. Este relatório informa se as contas anuais representam a imagem fiel da empresa, fornecendo uma opinião não vinculativa sobre a realidade económica da empresa.
  • Relatório de gestão. Trata-se de um complemento do relatório anual de atividades da empresa, cuja função consiste em contribuir para aumentar a transparência na apresentação das informações sobre uma empresa. Além de apresentar pormenores sobre a sua situação, gestão e planos futuros mais imediatos.

5. Cálculo e interpretação do EBITDA

O EBITDA é um dos indicadores mais utilizados para medir o resultado da empresa. Este acrónimo provém do inglês earnings before interest, taxes, depreciation and amortization. Ou seja, “lucros antes de juros, impostos, depreciações e amortizações”.

O EBITDA mede a capacidade de uma empresa para gerar lucros, considerando unicamente a sua atividade produtiva.

6. Cálculo do fundo de maneio e análise do seu resultado

fundo de maneio ou fundo de rotação é uma medida da liquidez da empresa que indica a capacidade de manobra que uma empresa possui para poder fazer face aos seus pagamentos a curto prazo. E, simultaneamente, poder efetuar investimentos ou aquisições próprias de qualquer atividade comercial. A fórmula utilizada para o seu cálculo é a seguinte:

FUNDO DE MANEIO = ATIVO CORRENTE – PASSIVO CORRENTE

O ativo corrente é composto pelas existências, tesouraria, direitos de cobrança a curto prazo e, em geral, quaisquer ativos líquidos. Ao passo que o passivo corrente reúne as obrigações de pagamento a curto prazo. Ou seja, as que são exigíveis num prazo inferior a um ano.

O resultado da fórmula tem de ser positivo. Dado que uma parte do ativo corrente, como o stock de segurança ou o saldo mínimo necessário disponível, devido à sua importância no processo de produção, deve ser financiada com capital permanente.

Se o fundo de maneio for negativo, uma parte do ativo não corrente será financiada a partir do passivo corrente. Tal procedimento aumenta a probabilidade de entrar em falência, uma vez que a empresa não consegue fazer face às suas dívidas a curto prazo com os seus ativos mais líquidos (ativo corrente). Ainda que dependendo do setor e do tamanho, há empresas que podem sobreviver com fundos de maneio negativos, pelo que é necessário saber interpretar corretamente este dado.

7. Análise do fluxo de caixa (cash flow) da empresa

cash flow é o indicador de análise financeira que nos permite avaliar a capacidade de uma empresa para gerar liquidez e, portanto, cumprir os seus pagamentos. Para isso, não basta conhecer o lucro da empresa. Dado que o lucro contabilístico deduziu em si mesmo o montante das provisões e amortizações que, embora pressuponham um aumento da despesa contabilística, não significam uma saída de dinheiro real da empresa.

Em termos gerais, o cash flow é calculado pelo resultado da seguinte fórmula:

CASH FLOW = LUCRO + AMORTIZAÇÕES + PROVISÕES

8. Análise final do diagnóstico financeiro e conclusões

Por último, o diagnóstico financeiro deve contar com uma fase de análise em que se estudem as informações obtidas, a fim de tomar as decisões adequadas para resolver problemas, procurar financiamento, alternativas de investimento, etc.

Como se pode constatar, o diagnóstico financeiro de uma empresa é muito completo e complexo, pelo que não se pode perdê-lo de vista para estar atento à atual situação financeira da empresa, detetar e resolver atempadamente eventuais problemas e tomar as melhores decisões que garantam a viabilidade da empresa.