Os desafios da internacionalização
Quer porque se quer romper as fronteiras que a reduzida dimensão do mercado português coloca, quer porque, pelo perfil do negócio, ir para fora faz todo o sentido, a internacionalização pode ser uma solução para muitas empresas. Com maior ou menor dimensão, pode ser uma forma de conseguir outros níveis de crescimento e maior rentabilidade, não só pela via da escala atingida como pelo potencial de, em alguns mercados, conseguir melhores margens.
A chegada da pandemia, causada pelo coronavírus, trouxe alguns contratempos a estes processos de internacionalização. Pode haver ajustes a fazer, mas não significa que se deva abandonar projetos por causa disso. Mas já lá vamos.
Conhecer bem a empresa antes de a dar a conhecer a outros
Antes de se avançar para um processo de internacionalização é preciso, claro está, desenhar uma estratégia e um plano com objetivos bem traçados. Mas antes sequer desse passo fundamental, deve ser feita uma análise cuidadosa do negócio. Conhecer a fundo as potencialidades da empresa – que, no fundo, é o que se irá “vender” lá fora, assim como as fragilidades, é fundamental. Partir para o exterior com uma base pouco sólida no mercado interno e na casa-mãe pode, potencialmente, ditar o falhanço de um projeto de internacionalização.
Depois, há que ter o objetivo a conseguir com esta “empreitada” muito bem definido. Para tal, é preciso identificar as motivações e razões para exportar, que podem ser mais reativas (fazer face a uma quebra de procura no mercado interno) ou proativas (potenciar as mais-valias da marca e dos produtos ou serviços lá fora).
Conhecer as forças do negócio e os recursos disponíveis
Responder com honestidade quando se pergunta se a sua empresa tem produtos ou serviços com potencial para serem exportados é muito importante. Depois há que perceber se, mesmo assim, há mercado para os distribuir, se esses mercados são europeus ou não, que barreiras e desafios colocam e de que recursos se dispõe – financeiros e não só – para iniciar esse caminho. É claro que, idealmente, o melhor seria depois ter os capitais próprios suficientes para tal, mas essa não é, infelizmente, a realidade de boa parte do tecido empresarial português. Por isso mesmo, os recursos financeiros necessários podem ter de ser obtidos de outra forma, seja via financiamento bancário, apoios públicos ou outros.
Minimizar más surpresas e maximizar o retorno de um projeto de exportação implica começar por escolher bem os mercados-alvo, saber o que valorizam os clientes locais, que concorrência existe (e, portanto, como nos podemos diferenciar) e como promover e ter sucesso na implementação dos produtos nesses mesmos mercados.
Diferentes países, diferentes riscos
Depois, e sendo certo que a Europa é um destino primordial das nossas exportações, não é o único. No limite, todo o mundo é, atualmente, um mercado potencial de venda dos nossos produtos. No entanto, podem existir grandes diferenças nos cuidados a ter consoante o mercado. E que vão desde as questões legais e regulatórias, ao risco do país, ou ao parco conhecimento que se possa ter dessa outra realidade e portanto dos hábitos dos consumidores, das práticas locais, da concorrência existente ou dos potenciais parceiros e clientes existentes.
As especificidades de cada mercado e país podem ainda significar grandes diferenças culturais, de organização social ou de infraestruturas de suporte disponíveis. Se possível, uma visita ao mercado de destino pode fazer toda a diferença, para conhecer essa outra realidade em muito maior profundidade.
Há que ter sempre em mente que uma estratégia de internacionalização malsucedida pode comprometer não apenas a presença nos mercados externos escolhidos, mas também o mercado de origem, consoante for o peso do investimento que ficou por remunerar.
Internacionalizar em tempo de pandemia
Ora, acontece que, entretanto, o mundo foi assolado por uma pandemia, não se sabendo quando vai a mesma passar nem exatamente com que consequências. Ser-se uma empresa exportadora é bom ou mau neste contexto? Depende. Se os mercados de destino forem dos mais afetados, este pode ser um período difícil. Basta pensar que os principais países de destino das nossas exportações estão a ser particularmente afetados pela crise sanitária – caso de Espanha ou França.
Por outro lado, estar exposto a vários mercados pode ser uma vantagem num país de dez milhões de habitantes apenas e significar que, quando chegar a retoma, a empresa possa recuperar mais depressa. Sobretudo tendo em conta que muitos dos nossos destinos de exportação são economias bastante mais fortes que a nossa.
Já quanto aos planos que possam existir de abertura da empresa ao exterior para exportação, o contexto pandémico não inviabiliza necessariamente o que quer que seja. Tudo dependerá do tipo de negócio, mercados alvo e, à cabeça, da solidez da empresa.
Por outro lado, na hora de obter financiamentos, há, para além dos apoios privados, alternativas públicas. Em outubro, foi aprovada a extensão do prazo e alargamento do raio de atuação de vários programas de apoio à competitividade e internacionalização das empresas. No Orçamento do Estado para 2021, está também previsto um incentivo fiscal para apoiar iniciativas de promoção externa de microempresas e PME das áreas do comércio, indústria e agricultura.
Se é certo que o cenário agora é de turbulência e incerteza, o tempo da recuperação económica há de surgir e, por isso, é importante estar-se preparado para, quando chegar a altura, tirar o máximo partido possível da retoma que, mesmo que tarde, acabará por chegar.