Como estabelecer uma atividade sustentável como contabilista

Os contabilistas podem ajudar os clientes a criar empresas sustentáveis?

Estão a surgir oportunidades num mundo ansioso por ultrapassar a recente pandemia.

Oportunidades alimentadas pelo facto das regras e formas de negócio terem mudado em grande parte.

Durante a pandemia, ferramentas de videoconferência como o Zoom e o Teams tornaram-se num lugar comum para reuniões cara a cara, e essa flexibilidade persiste agora que retomamos alguma normalidade.

Um estudo da Sage aprofunda pormenores como este, analisando o estado de espírito e a atitude de contabilistas e de pequenas e médias empresas no panorama empresarial atual.

Neste artigo, discutiremos este tema e muito mais.

Eis os temas que iremos abordar:

• Apps vs papel
• Considerações sobre a cadeia de abastecimento
• Aumentar os requisitos legislativos
• Medidas práticas para empresas
• Últimas reflexões

Apps vs papel

De acordo com o estudo da Sage, a maioria dos contabilistas (63%) afirma que os clientes preferem usar apps, emails e outros canais virtuais como meios de comunicação, em detrimento do contacto direto.

Este estudo demonstra ainda que 99% dos contabilistas utiliza modelos de contabilidade digital.

Portanto, numa primeira impressão, esta é uma profissão corretamente alinhada com o modo como o mundo empresarial está a transitar para formas digitais de trabalho — agora e no futuro.

Mas este pode não ser o panorama global.

Quando os investigadores perguntaram aos contabilistas como armazenam os registos dos clientes e documentos internos, mais do que quatro em dez respondeu que continua a utilizar registos em papel que são guardados em pastas de arquivo ou formatos semelhantes.

Isto levanta uma questão: Como é que os contabilistas podem verdadeiramente fazer a transição para um ambiente de trabalho digital preparado para a próxima década?

Esta questão precisa de ser inserida num contexto mais abrangente e essencial: como é que os contabilistas podem tornar-se mais ecológicos numa altura em que os seus clientes estão a criar políticas ambientais, sociais e de governança corporativa (ESG)?

Efetivamente, em 2019, o fabrico de papel foi responsável por 2.2 milhões de toneladas métricas de CO2 e de outros poluentes, como o metano, o protóxido de azoto e os hidrofluorcarbonetos (HFC).

Mais adiante neste artigo, analisaremos alguns dos passos que podem ser tomados.

Porém, em primeiro lugar, é fundamental perceber o panorama global.Para tal, damos a palavra a Richard Spender, diretor de sustentabilidade da ICAEW.

Considerações sobre a cadeia de abastecimento

Embora a maioria de nós seja sensível às questões ambientais, estas podem ser bastante abstratas.

Richard afirma: “Pode ser difícil fazer a correlação entre os aumentos das emissões e temperaturas globais ao longo do século que estão a impulsionar mudanças climáticas e as atividades empresariais dos dias de hoje.

“Uma abordagem diferente e mais acessível seria considerar os impactos imediatos das mudanças climáticas, tais como períodos de seca, cheias e incêndios.

“Os eventos climáticos extremos são cada vez mais noticiados. Considere-se a forma como trouxeram perturbações para as empresas.

“Quando observados através da lente das mudanças climáticas, verifica-se que estes eventos estão relacionados. Não são apenas eventos isolados, mas eventos que poderão ocorrer com maior violência nos próximos anos.

“Desta forma, as mudanças climáticas podem ser consideradas um problema estratégico e de resiliência para as empresas.

“Estava a pensar num evento que ocorreu em agosto de 2019, e que foi noticiado pela BBC. Chuvas fortes destruíram as culturas de couve-flor, levando ao aumento de preços, e não apenas da couve-flor como de todos os tipos de brássicas.

“Alguns agricultores passaram por dificuldades financeiras.

“Em toda a cadeia de abastecimento até ao momento em que a comida é servida, estou certo de que haveria um contabilista certificado algures atento aos negócios da empresa.

“Como estamos a ajudar os nossos clientes a pensar na resiliência das suas empresas? O que estamos a fazer quando falhas nas culturas se tornam regulares?

“Como pode flexibilizar o seu modelo empresarial para melhor gerir a situação?”

Aumentar os requisitos legislativos

A necessidade de mudança e adaptação é ainda mais profunda do que isto.

As empresas estão a fazer cada vez mais compromissos em torno da neutralidade de carbono, como parte das suas práticas de ESG.

“Isto envolve toda a cadeia de abastecimento,” acrescenta Richard. “Por isso, vai ter de o enfrentar através da cadeia de abastecimento. Vai exigir o seu envolvimento.”

Por outras palavras, para manter as suas relações empresariais, poderá ter de provar as suas credenciais ambientais. Caso contrário, poderá perder clientes.

Além disso, os contabilistas estão numa posição ideal para ajudar os seus clientes à medida que vai sendo introduzida mais legislação ambiental nos próximos anos.

Neste momento, esta legislação destina-se a empresas de maiores dimensões, mas não há dúvidas de que empresas de todos os tipos e dimensões serão alvo de novas legislações.

“Não precisa de ser uma história triste,” afirma Richard. “Quais são as oportunidades?

“Talvez os contabilistas possam prestar aos seus clientes um serviço adicional, ajudando-os a medir as suas emissões e a compreender qual é a base das mesmas.”

Já é possível encontrar um exemplo deste requisito no imposto relativo a embalagens de plástico, introduzido em abril de 2022.

As maiores empresas têm de pagar 200 libras por tonelada métrica de embalagens de plástico que não contenham pelo menos 30% de material reciclado. As empresas devem registar o pagamento do imposto, efetuar o pagamento quinzenalmente e conhecer os diversos créditos e regalias.

Tudo isto faz parte das funções de um contabilista.

Medidas práticas para empresas

Os esforços da ICAEW, no sentido da sua neutralidade carbónica, variam desde a substituição de formas de aquecimento e ar condicionado ineficientes até ao envio de desperdícios alimentares de centros de congressos para geradores de biomassa.

Richard afirma que a pegada de carbono da empresa era “mínima”, mas acrescenta que isso pouco importa neste momento.

As ações tomadas devem ser consideradas no contexto da capacidade da ICAEW em influenciar e apoiar os seus estudantes e membros.

Por outras palavras, é uma consideração semelhante à da cadeia de abastecimento.

Richard afirma: “Se dissermos aos nossos membros que precisam de agir ao nível climático, temos a obrigação de o fazer também. E é assim que o fizemos. Que tipo de coisas pode fazer?

“E os nossos membros podem aprender e levar essas soluções aos seus clientes.”

Este é o método adotado por contabilistas bem informados.

Estão a tornar-se um paradigma de sustentabilidade que os seus clientes podem admirar e usar como modelo nas suas empresas. Isto é bom para o planeta, mas também para a obtenção de novos clientes.

Lembre-se que os clientes tendem a aderir a práticas que espelhem os seus valores, crenças e cultura.

Como é uma prática sustentável?

Videoconferências e a cloud

Noutros tempos, talvez parecesse estranho fazer videochamadas através do Zoom ou do Teams.

No entanto, a pandemia fez com que todos ficassem confortáveis com estas tecnologias. Graças a elas, é possível poupar enormes quantidades de carbono que de outra forma gastaria em viagens para os escritórios de clientes e vice-versa.

Contudo, Richard aponta que isto não é assim tão simples.

É necessário algum insight e rigor ao utilizar as tecnologias da cloud que alimentam os serviços de videoconferência, assim como armazenamento online.

Richard afirma: “Quanto carbono incorporam? Em que servidores armazena os seus dados?

“Esses servidores são alimentados por eletricidade movida a carvão? Ou são facultados por prestadores de serviços que usam eletricidade verde? “Adquiriu eletricidade verde?”

Viagens

No tópico de viagens, Richard afirma: “Quando a ICAEW mediu a sua pegada de carbono, percebemos que grande parte dela adivinha das viagens dos colaboradores.

“Só podemos influenciar a forma como os nossos colaboradores viajam e não podemos tornar esses meios livres de carbono. Não temos controlo sobre as ambições carbónicas dos Transportes de Londres.”

Uma vez mais, rigor e, muitas vezes, uma análise profunda são necessários para assegurar que uma opção que parece superior não contribua para a sua pegada de carbono.

Escritórios

Como Richard mencionou anteriormente, a sua escolha de escritórios pode ter um impacto enorme sobre a sua pegada de carbono.

Tentativas de aquecer edifícios mais antigos ou refrigerá-los durante verões cada vez mais quentes implicam que é quase impossível atingir a neutralidade carbónica sem incorrer em custos de compensação significativos.

A transição para um edifício moderno construído com eficiência energética pode proporcionar uma transformação súbita em termos de emissões de CO2 — e nas suas contas de eletricidade.

Contudo, exige-se uma vez mais rigor para compreender como diferentes tecnologias de construção afetam as necessidades de aquecimento e refrigeração.

Certamente, não é suficiente visar edifícios novos sem compreender que medidas ambientais, se existentes, foram implementadas.

Colaboradores e práticas laborais

Uma política de trabalho flexível com colaboradores remotos pode reduzir a necessidade de grandes espaços de escritório e, consequentemente, a energia necessária para os aquecer.

(Embora valha a pena considerar o facto de que os colaboradores remotos usarão energia para aquecer as suas casas e para utilizar os seus dispositivos.)

Porém, apesar do custo ambiental das deslocações deixar de existir, e seja um ponto positivo, os peritos consideram que se trata de uma poupança de carbono individual mais do que para a empresa que os emprega.

Efetivamente, estudos demonstram que o trabalho remoto é uma consideração mais subtil do que pode parecer numa primeira análise.

Um aumento das compras conduz a um aumento do fabrico de equipamentos eletrónicos, como portáteis e mobiliário de escritório, que tem impacto na pegada de carbono de cada indivíduo, e em algumas adaptações domésticas, como a conversão de garagens em escritórios.

Além disso, aplicam-se as mesmas considerações para videoconferências como anteriormente mencionámos – há uma necessidade das empresas usarem serviços de cloud hosting que usem energia verde.

Últimas reflexões

A ICAEW está a elaborar um pacote de informações para ajudar as empresas, o que indica o futuro para muitos contabilistas para que procurem ajuda sobre a melhor forma de prosseguir.

A verdadeira neutralidade carbónica é mais complexa do que parece.

Mas atingir esta meta coloca-o na melhor posição para enfrentar um futuro em que as necessidades dos clientes estão em constante evolução.