Dinheiro e Poupança

Como vai a subida dos preços afetar o consumo em 2022

Num ano em que o comércio, a restauração e várias outras áreas de atividade precisam tanto de recuperar da quebra de negócio que a pandemia lhes trouxe, surge um novo ‘inimigo’ que pode vir a condicionar o consumo: a inflação.

A taxa de inflação tem vindo a subir na Europa – e ainda com maior expressão nos EUA – e as razões para este aumento generalizado de preços são conhecidas. O aumento do preço dos combustíveis e as falhas nas cadeias de distribuição a nível mundial colocam pressão sobre os preços como há muito não se via, o que preocupa nesta altura os agentes económicos. Depois de anos em que os preços dos bens de consumo registaram subidas marginais, o cenário mudou de figura.

 

Face ao aumento dos preços, o valor dos salários e pensões deveria ajustar-se em consonância, mas, sobretudo no contexto atual, não se prevê que tal possa agora ocorrer. Com a pandemia, as economias de todo o mundo sofreram e sofrem ainda os seus efeitos, sendo difícil pensar que as empresas tenham capacidade para, nesta fase, cobrir a perda de poder de compra dos trabalhadores quando foram, elas próprias, sujeitas a quebras de receitas e produtividade. Acresce que a inflação tem efeitos não só nos consumidores, mas também no tecido empresarial por via do aumento do custo das matérias-primas.

A julgar pelo que está previsto para a administração pública – uma referência para os privados – os aumentos salariais em 2022 pouco deverão diferir dos verificados em 2021.

 

Se os preços não desacelerarem, entretanto, e sem o correspondente ajuste nos salários, 2022 será não só um ano sem aumentos reais dos salários como de perda de poder de compra para as famílias e, potencialmente, de contração no consumo. Tudo vai depender, também, do que acontecer sobretudo após o verão, existindo quem antecipe que, após a subida da inflação do primeiro semestre, na segunda metade do ano se comece a observar um processo de correção desta tendência.

Para além do efeito direto da inflação sobre o poder de compra e, logo, sobre o consumo, outro impacto indireto pode também afetar o comportamento dos consumidores. São vários os bancos centrais que já avisaram que poderão vir a avançar com um aumento das taxas de juro este ano, em resposta a esta pressão inflacionista, e neles se inclui o Banco Central Europeu (BCE). Se assim for, em países como Portugal, em que o crédito à habitação tem uma enorme expressão entre a população, as famílias poderão enfrentar um período de menor rendimento disponível também por esta via, em resultado de um aumento da prestação mensal do empréstimo à habitação.

 

Ainda assim, há quem recorde que este efeito de uma eventual subida das taxas de juro pode ser parcialmente atenuado por alguma “almofada” financeira, entretanto criada pelas famílias, em resultado das limitações à realização de despesa provocadas pela pandemia e pelos respetivos confinamentos e períodos de isolamento. Esta maior poupança forçada pode ajudar a amortizar efeitos negativos de subidas de taxa de juro e de preços.

Ainda é cedo, por isso, para dizer em definitivo como será 2022 em termos de comportamentos de consumo. Se, por um lado, existem as tais pressões negativas no horizonte resultantes de um cenário de inflação e de uma possível subida das taxas de juro, a evolução da pandemia também irá pesar no resultado final. Numa altura em que se especula sobre se o novo coronavírus vai finalmente passar a endémico, com a variante Ómicron, ou se é cedo para festejos, a resposta terá consequências muito díspares. Se as previsões mais otimistas se confirmarem, pode gerar-se um efeito de reação e de aumento dos níveis de consumo, em resposta a uma maior normalização do dia a dia que compense os tais efeitos mais negativos. Sobretudo nos setores mais penalizados pela pandemia e em que o e-commerce não foi uma possibilidade.

Se dúvidas houvesse, este promete ser, portanto, mais um ano de fortes emoções.