A transformação tecnológica do setor agroalimentar: oportunidades de crescimento
O setor agroalimentar enfrenta cinco grandes desafios, segundo o estudo Agrifood: New risks looming ahead, dado a conhecer em fevereiro deste ano:
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As mudanças nos hábitos alimentares
Os consumidores procuram, cada vez mais, alimentos saudáveis e que ao mesmo tempo a sua produção seja o menos agressiva ao meio ambiente. Este novo paradigma de consumo os produtores a aumentarem o seu mix de produtos.
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A sustentabilidade ambiental, procurando reduzir a pegada de carbono da produção de alimentos
A produção de alimentos é responsável por um quarto das emissões mundiais de gases de efeito estufa. O esforço dos produtores para reduzir estas emissões está na cadeia de produção dos alimentos, onde as emissões de CO2 (gás responsável por cerca de 60% do efeito-estufa) são mais altas. Surpreendentemente, não é o transporte, que responde por menos de 10% do total de emissões de CO2 dos alimentos (com exceção dos produtos que são transportados por via aérea).
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A diversificação das cadeias de abastecimento, provocada por intervenções nas políticas comerciais de cada País
Segundo o mesmo estudo, as empresas agroalimentares têm de gerir um número cada vez maior de intervenções de cariz comercial (desde importações a incentivos ou restrições à exportação), gerando, por vezes, um aumento dos custos operacionais.
Desde 2009, foram implementadas 6000 novas medidas no setor, sendo que apenas 40% foram consideradas facilitadoras ou promotoras da liberalização do comércio.
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O aumento dos salários
De acordo com o painel de empresas inquirido no estudo, o peso médio dos custos da mão-de-obra representa 11% de todos os custos operacionais do setor agroalimentar. Isso representa um desafio para os fabricantes de alimentos.
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A incapacidade das empresas fixarem os preços
Uma das dificuldades dos fabricantes de alimentos é, por vezes, o aumento nos custos das matérias-primas que não é refletido no mercado. O caso abordado neste estudo é o surto de peste suína na China, que reduziu o rebanho em mais de um terço em relação ao ano anterior. De forma mais ampla, o surto asiático teve um efeito de arrastamento para os preços dos produtos em todo o mundo.
Em paralelo a estes cinco desafios, a regulamentação crescente é o reflexo de uma sociedade que exige cada vez mais transparência, qualidade e processos de produção sustentáveis a todos os produtores agrícolas.
Felizmente, vivemos em simultâneo a era da Agricultura 4.0, que representa uma oportunidade única para os empresários agrícolas aproveitarem as novas tecnologias para darem uma resposta eficiente aos novos desafios.
A herança tecnológica
Num estudo recente da IDC sobre o setor alimentar, percebe-se que 40% das empresas estão reféns de sistemas de informação fragmentados e tecnologicamente obsoletos, nos quais proliferam os desenvolvimentos específicos, aplicações externas que não comunicam entre si, e, como consequência, dados desatualizados, redundantes e de difícil interpretação.
Nestas empresas, o sistema de informação central – o ERP – serve pouco mais do que as necessidades de faturação e contabilidade. Qualquer alteração aos sistemas de informação é complexa, arriscada e com um custo elevado, condicionando a evolução da empresa.
O que muda com a Covid-19?
Esta pandemia, provocada pelo Coronavírus, está a antecipar muitas mudanças que já estavam em curso e outras que ainda se encontravam numa fase embrionária e que ganharam novo sentido perante uma crise sanitária sem precedentes na nossa geração. Na verdade, a história parece mostrar que grandes eventos globais, como guerras e pandemias, não criam novas tendências, mas aprofundam e aceleram as existentes – a Agricultura 4.0 é um caso paradigmático.
Os argumentos da Agricultura 4.0
As empresas mais bem preparadas serão aquelas que dispuserem de um Sistema de Informação Inteligente, capaz de processar, analisar e atuar sobre grandes volumes de dados gerados pela “internet das coisas” (IOT), em tempo real. Com a IOT, a multiplicidade de dispositivos e equipamentos conectados em permanência, desde o campo até aos pontos de distribuição e venda permitirão a recolha imediata de dados sobre os solos, a ocupação de recursos e preferências de consumo.
Neste contexto, o ERP será um instrumento fundamental na gestão dos processos operacionais e na criação de transparência na cadeia de abastecimento e produção, garantindo controlo total da qualidade e rastreabilidade alimentar, desde a colheita até ao ponto de consumo.
Benefícios de um ERP otimizado para o setor agrícola
Na Agricultura 4.0, o ERP é o fator de união e integração de todas as tecnologias de campo com as operações logísticas, comerciais e financeiras.
A consolidação de dados numa plataforma única confere uma visão 360º do negócio, permitindo atuar mais rapidamente sobre as ineficiências e melhorar os processos de produção, embalamento, distribuição, transporte e venda dos produtos.
A integração do ERP com os equipamentos agrícolas e balanças, p.ex., permite a recolha automática de dados quantitativos e qualitativos, fundamentais para uma gestão do negócio em tempo real.
Note-se que os empresários agrícolas mais evoluídos já implementaram práticas de agricultura robotizada e de precisão, efetuam mapeamento digital dos terrenos e tiram partido da IOT para monitorizar aspetos como os movimentos do gado, a saúde do solo e os níveis de água.
No entanto, é preciso unificar todos os dados obtidos debaixo de um sistema agregador – o ERP – que permita coordenar, monitorizar e ajustar as práticas de gestão agrícola, através de mecanismos de inteligência artificial e análise preditiva.
Por todo o mundo, multiplicam-se os casos de sucesso que demonstram o impacto das novas tecnologias e sistemas de informação na produtividade e rentabilidade dos negócios agrícolas, tanto nas operações de campo como no back-office. Não restam muitas dúvidas que o caminho para a competitividade agrícola em grande escala passa por aqui.