De que forma os contabilistas estão a combater a crise climática – Exemplo do Reino Unido
O combate à crise climática está a tornar-se uma prioridade para cada vez mais empresas. Ainda assim, muitos sentem que o desafio intimida, que é demasiado complexo e que os seus esforços não fariam qualquer diferença.
O combate à crise climática está a tornar-se uma prioridade para cada vez mais empresas. Ainda assim, muitos sentem que o desafio intimida, que é demasiado complexo e que os seus esforços não fariam qualquer diferença.
Já ouviu isto em algum lado?
É perfeitamente compreensível. Mas a verdade é que o progresso virá dos nossos esforços coletivos. Todos os dias, as escolhas que fazemos vão-se acumulando.
O setor da contabilidade tem agora uma oportunidade significativa de se juntar a este esforço.
Não é relevante saber se trabalha sozinho/a ou se gere uma empresa: pode começar a reduzir o impacto que a sua empresa tem no planeta imediatamente. E não tem de ser complicado nem oneroso.
Falemos sobre as emissões líquidas nulas.
Este artigo trata dos temas seguintes:
- O que quer realmente dizer «emissões líquidas nulas»?
- Porque nos devemos concentrar nas emissões líquidas nulas?
- Como atingir as emissões líquidas nulas de forma simples e económica
- A que corresponde o êxito nesta matéria?
- Últimas considerações sobre o combate à crise climática
O que quer realmente dizer «emissões líquidas nulas»?
É provável que já tenha ouvido falar de emissões líquidas nulas nas notícias ou nas redes sociais, mas recapitulemos de forma breve.
O conceito está no centro das discussões sobre as alterações climáticas desde o Acordo de Paris de 2015. Tem evoluído e é agora entendido como um conceito simples:
Criar uma economia global em que as emissões líquidas de gases com efeito de estufa sejam nulas.
Isto significa que os países, as empresas e os indivíduos devem procurar não acrescentar mais gases com efeito de estufa do que aqueles que estão a ser retirados da atmosfera.
Encontrar este equilíbrio é alcançar o consumo líquido nulo.
O Acordo incluía um compromisso para alcançar este objetivo até 2050, o que nos dá uma meta geral muito clara. O problema é que faltam os pormenores que importam no que diz respeito a fazer disto a realidade.
Por exemplo, como devemos calcular as emissões das empresas? E como definimos o limite até ao qual a nossa empresa é responsável pelas emissões? Critérios como estes têm de ser estabelecidos pela indústria e ter por base um acordo, já que cada área opera de modo distinto e enfrenta obstáculos únicos.
Definir padrões de referência
A Sage (UK), o ICAEW, a ACCA, a AAT e a Good Business Charter juntaram-se à Net Zero Now para apoiar o lançamento do primeiro protocolo e da primeira certificação para toda a indústria, com vista à definição dos padrões de referência em matéria de emissões líquidas nulas para os contabilistas.
O Protocolo de Emissões Nulas para a Contabilidade apresenta o consenso da indústria relativamente ao que as empresas de contabilidade precisam de fazer para atingir as emissões nulas e à forma como o progresso deve ser avaliado.
Foi desenvolvido depois de ter sido revisto por vários intervenientes na indústria da contabilidade e na esfera da sustentabilidade.
Algumas indústrias têm criado uma abordagem recomendada que dá às empresas orientações claras sobre como atingir um processo consistente. Por outras palavras, definiram um padrão de referência relativo às emissões nulas específico à sua indústria, e a contabilidade não é exceção.
O Protocolo de Emissões Nulas para a Contabilidade adotado pela Sage UK oferece a seguinte definição de emissões nulas, que faz parte do vocabulário da campanha Race to Zero [Corrida para as Emissões Nulas] e que é um pouco mais detalhado do que o conceito mencionado acima:
«As emissões líquidas nulas têm lugar quando uma entidade reduz as suas emissões seguindo as indicações da ciência, com as emissões de gases com efeitos de estufa que continuam a ser atribuídas a essa entidade a serem completamente anuladas pelas remoções em igual medida».
Isto revela as duas formas de se alcançar o objetivo.
A primeira é a redução das emissões na fonte. Isto pode incluir a transferência para um fornecedor de energia renovável ou a redução das viagens de trabalho.
Uma vez reduzidas ao máximo as emissões, as que sobrarem podem ser combatidas com esquemas de compensação de carbono. Isto passa pela compra de créditos de carbono que financiam os projetos ligados aos gases com efeitos de estufa que removem o CO2 ou que previnem que este entre na atmosfera.
A redução de emissões na fonte deve ser sempre a prioridade, já que prevenir os danos será sempre preferível a ter de os reparar.
Continua a ser recomendada uma combinação de estratégias, porque a redução das emissões não pode ser realisticamente alcançada com a rapidez que a meta de 2050 exigiria.
Porque nos devemos concentrar nas emissões líquidas nulas?
Atingir as emissões líquidas nulas até 2050 é a nossa melhor oportunidade de atenuar os danos causados pelas emissões de gases com efeito de estufa e de prevenir a subida continuada das temperaturas globais.
«A melhor altura para adotar a política de emissões nulas era há 20 anos. A melhor alternativa é hoje.» NET ZERO NOW (EMISSÕES NULAS AGORA), ABRIL DE 2022
Ainda que pareça demasiado difícil, ainda é possível fazer a diferença se começarmos agora. Todos temos responsabilidade, incluindo os governos, as indústrias, as empresas e os indivíduos.
Estima-se que as empresas de contabilidade do Reino Unido contribuam com quase meio milhão de toneladas de emissões de gases com efeito de estufa todos os anos, de acordo com a iniciativa Net Zero Now para a área da contabilidade, o que equivale a mais de 100 000 carros na estrada durante um ano.
Estes factos relembram-nos o que nos impele a atingir o objetivo de emissões nulas, desde a preservação do planeta para os nossos filhos e netos, à prevenção da extinção de plantas e de animais.
É provável que estas coisas já sirvam de motivação, mas há também razões práticas para se envolver no esforço, incluindo os seguintes benefícios:
Redução dos custos operacionais
Quando monitoriza o seu consumo energético com mais atenção, descobre rapidamente áreas em que pode ser mais eficiente.
A redução das emissões não faz apenas parte do seu objetivo de emissões nulas, também reduz os custos energéticos do seu negócio.
Inspirar inovação
A necessidade de ser mais sustentável aguça o engenho inovador.
À medida que criar formas de ser mais eficiente e de usar menos energia e à medida que começar a usar novos produtos e serviços, haverá outras áreas do negócio que beneficiarão dessas inovações.
Imagine que adota um novo software que reduz o número de vezes que se encontra pessoalmente com os clientes: isso ajudará a cortar nas emissões das deslocações.
Este software também lhe poupa tempo, permite-lhe fazer mais coisas e até corresponde a uma experiência mais conveniente para os seus clientes.
Corresponder às expectativas dos clientes
Alguns clientes tomam decisões conscientes sobre aqueles com quem trabalham (e a quem pagam) com base em fatores relacionados com a sustentabilidade.
Os consumidores até mudam de marcas com base nestas questões, ao mesmo tempo que recomendam aqueles que tomam medidas.
Ao trabalhar para atingir a meta das emissões nulas está a corresponder a estas expectativas.
Manter os trabalhadores durante mais tempo
Investigadores do Protocolo de Emissões Nulas para a Contabilidade concluíram que os trabalhadores das empresas com programas de sustentabilidade fortes têm maiores níveis de satisfação e são mais leais, além de permanecerem mais tempo na empresa.
Também verá melhorias no envolvimento dos trabalhadores, incluindo um melhor alinhamento com os valores da empresa, mais esforços discricionários, mais defesa da empresa e mais orgulho.
Alterar a perceção da sua marca
Quando puder confirmar que tomou medidas com vista a ser um negócio mais sustentável, pode começar a comunicá-lo ao mundo.
Os certificados oficiais validam os seus esforços e permitem-lhe demonstrar que se preocupa com o objetivo das emissões líquidas nulas.
Desde que as suas comunicações tenham uma base factual e forem transparentes quanto aos procedimentos, esta pode ser uma forma poderosa de mudar o modo como o seu negócio é percecionado.
Como atingir as emissões líquidas nulas de forma simples e económica
Apesar da urgência e dos benefícios empresariais das emissões líquidas nulas, muito poucas pequenas e médias empresas (PME) na área da contabilidade ou em qualquer área dos serviços profissionais se comprometeram seriamente com este objetivo.
Isto deve-se muitas vezes ao facto de sentirem que não dispõem de recursos suficientes, de não saberem bem o que fazer, de não saberem o que as emissões líquidas nulas devem significar para eles, ou uma combinação dos três.
A que corresponde o êxito nesta matéria?
Para medir o sucesso é necessário estabelecer metas regulares.
Esta é outra razão pela qual é necessário que a indústria crie referências, para que seja claro o que é suficientemente realista, alcançável e ambicioso.
Isto começa com um ano base de atividade, que pode usar para estabelecer metas iniciais e para ver como correm os primeiros anos. Isto contribuirá para o mapeamento das escalas temporais e para a criação de um plano para o cumprimento do objetivo das emissões nulas.
Vale a pena mencionar que as metas que definir devem ser aquilo a que se chamam metas com base na ciência, que são especificamente desenvolvidas de acordo com a ciência do clima e com o nível de descarbonização necessário à limitação da subida das temperaturas globais.
Para lhe dar uma ideia de qual deve ser a ambição, eis alguns dados definidos pelo Protocolo:
- Uma redução absoluta da emissão dos gases com efeito de estufa (todo o âmbito do Protocolo de Emissões Nulas para a Contabilidade) de pelo menos 30% ao longo de cinco anos.
- Uma redução absoluta da emissão dos gases com efeito de estufa (âmbitos um e dois do Protocolo de Emissões Nulas para a Contabilidade) de 50% até 2030.
Deve depois reavaliar e comunicar o seu progresso anualmente. Para que fique claro, cumprir menos de 65% da meta anual significa que não está no bom caminho para cumprir as metas acima definidas e que deve, portanto, reavaliar a sua abordagem e reforçar o apoio de que dispõe.
A demonstração anual do progresso no que diz respeito a estas metas resultará numa certificação oficial que refletirá as suas conquistas e intenções.
É um sinal de liderança em matéria ambiental, é uma distinção face à concorrência e uma forma de ir ao encontro das exigências dos seus clientes que querem trabalhar com práticas sustentáveis.
Últimas considerações sobre o combate à crise climática
O combate à crise climática será sempre muito duro. Mas se nos esforçarmos em conjunto, todas as empresas – incluindo as de contabilidade – podem contribuir para o progresso.
Na Sage, ainda temos muito para fazer no nosso percurso com vista às emissões nulas. Os conselhos que partilhamos aqui são o que aprendemos até agora com a nossa colaboração com organizações como o ICAEW (Instituto de Revisores de Contas de Inglaterra e do País de Gales), a ACCA (Associação de Revisores de Contas Certificados), a AAT (Associação de Técnicos de Contabilidade), a Good Business Charter e a Net Zero Now.
Haverá muito mais lições no futuro, e esperamos que a partilha destes conselhos ao longo do tempo seja útil para o seu negócio.
No fim de contas, quando se trata de combater as alterações climáticas, o trabalho coletivo é aquele que fará a diferença.