Estratégias para promover a liderança feminina nas empresas
Apesar das mulheres representarem metade da população mundial em idade ativa, apenas uma pequena parte está inserida no mercado de trabalho. E quantas delas ocupam cargos de direção?
De acordo com o ranking STOXX Europe 600, Portugal ocupa o 13º. lugar do ranking que avalia a percentagem de mulheres no topo de empresas e apenas três empresas portuguesas cotadas em bolsa têm uma liderança feminina. Mas qual é a razão? O que podemos fazer para promover a liderança feminina nas empresas? Refletimos sobre os elementos fundamentais para consegui-lo com mulheres que lideram a sua própria empresa.
Quebrar o ‘telhado de vidro’
Para Cristina Vicedo, as mulheres ainda se deparam com o denominado “telhado de vidro” quando progridem dentro de uma empresa. Aconteceu com ela. Ela é a CEO e fundadora da agência criativa de branding, comunicação e marketing, Sincerely. A Cristina conta-nos que se deparou com as “clássicas barreiras” no momento de progredir para cargos de direção.
“Fui promovida a diretora-geral sem aumento salarial e a ganhar menos 30% do que o ex-diretor-geral da mesma empresa, que era homem”, refere. Além disso, quando ela assumiu o cargo, também se deparou com a “falta de confiança na liderança por ser mulher“, apesar dos resultados comprovarem o seu trabalho.
Liderança feminina e conciliação familiar
Na mesma linha, a CEO da Bulevip, Sora Sans: “Eu, pessoalmente nunca senti que o facto de ser mulher me condicionasse, mas acredito que ainda temos um longo caminho pela frente”. Na sua opinião, seria necessário evoluir no âmbito salarial e em aspetos como a conciliação familiar e profissional. “Estou convencida de que podemos fazê-lo e de que o futuro é o equilíbrio dentro da riqueza que nos proporciona a diversidade”, acrescenta.
Em certos sectores associados ao digital, como no tecnológico, há uma menor percentagem de mulheres em cargos de direção. Ainda assim, segundo Sans, Já se está a evidenciar “um aumento no mundo do e-commerce, chegando a haver equipas com certa equidade”.
Promover a liderança das mulheres
Selva Orejón, CEO da OnBranding, é da opinião de que o sucesso de uma empresa será maior se a liderança feminina for promovida dentro da organização. “É importante ter como prioridade a inclusão de mulheres líderes”, garante. Por sua vez explica que, quer as pessoas tenham filhos quer não, ela tem sempre na sua equipa “pessoas que de forma natural sejam autónomas na sua forma de encarar a vida e que apresentem os seus contributos”. Considera que quer se trate de uma multinacional ou de uma PME “é um verdadeiro benefício ter pessoas com dotes de liderança, e é importante potenciar a sua formação”.
A formação de mulheres líderes deve começar numa idade precoce. Para Vicedo é importante educar “a partir da escola e da família”. Pois, tal como assinala, a liderança é “uma aptidão e uma atitude. As aptidões podem ser aprendidas e melhoradas com o tempo, a atitude depende de nós próprios e, no caso das mulheres, é a nossa principal barreira”.
A promoção de comportamentos inclusivos que não prejudiquem as mulheres que aspiram a cargos de direção deve partir da sociedade. De facto, a CEO da Sincerely acredita, ainda, que a diversidade e a inclusão é algo que, como dizia a sua avó, “é preciso assimilá-lo”. No entanto, incentiva as mulheres a “mudar de atitude” e a ter confiança em si mesmas para enfrentar o medo e quebrar estereótipos.
Educação no respeito e na igualdade de oportunidades
A mesma opinião é partilhada por Sora Sans para quem a educação é um fator fundamental na promoção da igualdade de oportunidades. “Tudo começa com a educação no respeito e na igualdade de oportunidades, quer nas escolas quer nos lares, e isto deve acontecer desde o início”.
A empresária da Bulevip insta a ter muito cuidado “com as mensagens que transmitimos e que são recebidas pelas novas gerações, que são o futuro”. “É fundamental continuar a lutar pela melhoria das políticas de conciliação”.
As empresárias concordam que ainda existe uma grande percentagem de mulheres que renunciam a cargos de responsabilidade, por estes serem “incompatíveis com a sua faceta de mães”. É por isso que Sans chama a atenção para a importância de criar uma verdadeira conciliação para poder contar com mulheres nos lugares de liderança.
A educação, elemento fundamental para a liderança feminina
A educação é o elemento fundamental para conseguir que cada vez mais mulheres possam alcançar lugares de direção em empresas de qualquer sector. Vicedo faz uma reflexão neste sentido. Segundo ela, as respostas para a razão de não se ter conseguido uma plena inclusão no âmbito profissional encontram-se na “história e no nosso passado”.
A empresária mostra que, quanto mais se demorar a incutir que as mulheres são tão válidas como os homens em posições de chefia, mais se demorará a conseguir uma mudança de mentalidade. “O que levou tempo para ser ensinado e educado, leva um tempo em tornar-se algo natural e admitido por todos”.
Como conseguir maior diversidade nas cúpulas empresariais?
Segundo a responsável da Sincerely, tudo aponta para o facto0 de ser preciso conhecer bem o objetivo que a empresa pretende alcançar e reparar que “quanto maior for a riqueza de ideias, maior será a inovação, maior será a competitividade profissional e maior será o crescimento económico”.
A fundadora da OnBranding advoga por melhor instruir as mulheres. Fazê-lo “diminuiria o nível de preocupação geral da sociedade”. E é que o facto de “sentir falta ou carestia faz com que não possamos ocupar-nos de questões tão básicas e importantes como é o cuidado pessoal ou a relação com o outro”. Dá como exemplo países onde se vive “naturalmente” e onde, graças a isso, “as pessoas podem dar muito mais de si”.
O empoderamento da mulher neste âmbito e no digital consiste em ter “educação, tolerância, respeito e bom senso”. Qualquer uma delas são armas poderosas como seres humanos, para fazer uma grande diferença, independentemente do sexo da pessoa”, acrescenta Vicedo.
Os perfis mais preparados
Apesar de tudo, seja qual for o posto de trabalho a desempenhar, as empresárias mantêm os pés no chão e advertem que “é preciso optar sempre pelos perfis mais preparados“. A questão é que, em muitos casos, o perfil delas é o melhor para o lugar.
Sans, por exemplo, mostra que já foi demonstrado ser “positiva” a presença de mulheres nos Conselhos de Administração. “Devemos sempre procurar os perfis mais qualificados e que melhor se ajustem ao cargo a desempenhar, independentemente de serem homens ou mulheres. Nisso consiste o equilíbrio real”, argumenta.
No entanto, isso não significa que ela, como todas as outras empresárias, gostaria que a percentagem de mulheres e homens em posições de liderança “fosse “mais equitativa”, embora considerem que se trata de uma “questão de tempo e evolução”.