Tecnologia e Inovação

Transformação digital: que impacto nos modelos de negócio em Portugal

Da inteligência artificial à computação na cloud, a transformação digital está a provocar uma profunda mudança nos modelos de negócio das empresas e na forma como estas operam e atuam nos seus mercados. O processo está em andamento e os seus impactos prometem não deixar nenhum setor de atividade de fora. Neste mundo cada vez mais digital, vão aumentando as oportunidades para as empresas alcançarem novos clientes, fornecerem novos produtos e serviços e descobrirem novas formas de monetizar as suas ofertas.

Portugal não é exceção nesta verdadeira mudança de paradigma, sendo certo que as especificidades do tecido empresarial do país trazem os seus desafios. Não nos podemos esquecer que, não só as PME são a quase totalidade das empresas em Portugal, como muitas têm ainda uma estrutura familiar e mais rudimentar, que se reflete, nomeadamente, no modelo de negócio e na forma de trabalhar.

Os dados estatísticos que vão sendo recolhidos espelham a relação entre este contexto empresarial português e a adaptação às novas tecnologias, mostrando que há ainda um longo caminho a percorrer. Há desafios importantes, relacionados, por exemplo, com a necessidade de capacitar os recursos humanos das empresas para o digital, quer via aquisição de maior literacia na área, quer pela formação específica ou contratação de especialistas em tecnologia. Isto num momento em que assistimos a uma grande crise de competências neste domínio. Outro desafio pode ser a existência ou não de meios financeiros suficientes para fazer aos investimentos necessários.

No entanto, é também verdade que, precisamente pelas limitações que a dimensão das PME traz, a transformação digital promete ajudar a contornar estas desvantagens competitivas, nomeadamente ao permitir o acesso a mercados e a uma exposição junto de potenciais clientes que, de outra forma, não era possível. Por outro lado, a necessidade de não ficarem para trás face à concorrência obriga as empresas a abandonar modelos de negócio mais cristalizados, impulsionando e precipitando processos de inovação.

Adaptar os modelos de negócio aos novos tempos

Como não poderia deixar de ser, adaptar os modelos de negócio à transformação digital em curso implica investir em infraestruturas tecnológicas. Consoante as necessidades da empresa, a sua estratégia e os meios de que dispõe, deve haver lugar à implementação de soluções, nomeadamente para armazenamento e tratamento de dados e adoção de software para a gestão da relação com os clientes.

Outra mudança passa por colocar o foco no cliente, na análise e satisfação das suas necessidades, tanto na adaptação da oferta de produtos e serviços da empresa, como na relação estabelecida com o consumidor.

É igualmente essencial que se promova uma cultura de inovação na empresa, em que a flexibilidade, capacidade de resposta e adaptação à mudança estejam muito presentes enquanto competências a desenvolver pelos colaboradores. No fundo, trata-se de adaptar o modelo de negócio a uma realidade que é cada vez mais difícil de prever e antecipar, dotando a empresa e os colaboradores de competências que permitam acompanhar um ritmo acelerado de mudança.

O impacto nas empresas

Um dos setores onde o digital tem provocado maior impacto em Portugal – como lá fora – é, sem dúvida alguma, o do retalho. A explosão do comércio eletrónico é seguramente o melhor exemplo disso mesmo. Sobretudo depois da pandemia, são cada vez mais os consumidores que tratam por tu os sites de e-commerce e esta forma de comprar e que já incorporaram nas suas rotinas o hábito de combinar o consumo em loja física com a compra remota. Acresce que têm vindo a descobrir, com as compras online, as vantagens em termos de conveniência, capacidade de comparar ofertas e de ter recomendações mais ajustadas ao seu perfil específico.

Do lado das empresas, temos assistido com cada vez maior frequência à escolha de modelos híbridos, que conciliam a presença física com a online ou mesmo ao nascimento de negócios que existem apenas na Internet.

Já nos serviços, a transformação tem tido, é claro, contornos diferentes, até porque, em algumas áreas, não é possível substituir o contacto presencial, uma vez que é ele a base do serviço em questão. No entanto, mesmo aí, a inovação tecnológica tem permitido que se consiga estabelecer, com cada vez com maior qualidade, um contacto ‘cara a cara’, mas à distância, via Internet. Exemplo disso são, por exemplo, as teleconsultas na área da saúde ou o aconselhamento jurídico e financeiro. Esta é, aliás, mais uma área onde a pandemia foi uma enorme fonte impulsionadora destes novos formatos de comunicação.

No entanto, ao mesmo tempo que o digital tem trazido novas oportunidades para os prestadores de serviços, permitindo chegar a mais pessoas e reduzir custos fixos, obriga também uma maior atenção à concorrência. 

Para os clientes, está a tornar-se muito mais fácil e rápido mudar de fornecedor e ter uma perceção mais global da oferta existente. A fidelização e manutenção de uma carteira de clientes sólida é mais desafiante, o que implica apostar em níveis mais elevados de serviço e em estratégias de promoção da fidelização.

Reforçar a aposta na cibersegurança

A possibilidade de aceder e tratar grandes quantidades de dados tem muitas vantagens, nomeadamente pelo acesso a informações sobre hábitos de compra, preferências e novas tendências. Mas o reverso da medalha é a maior responsabilidade e risco que estar na posse de dados sensíveis de clientes implica.

As empresas têm de dar uma atenção redobrada a tudo o que são questões relacionadas com a prevenção do cibercrime, o controlo de danos, a proteção da privacidade e confidencialidade dos clientes, a salvaguarda dos dados (incluindo das próprias empresas) e o cumprimento de tudo o que são responsabilidades éticas e regulamentares. 

Daqui se retira que, quanto maior o recurso por parte das empresas às novas tecnologias, maior terá de ser, por maioria de razão, o investimento em soluções seguras. Mais uma vez, é importante recordar que a confiança e a ética são, mais do que nunca, ativos fundamentais para qualquer empresa. Uma vez quebradas, fazer o caminho de volta é sempre muito mais difícil.

Aproveitar a transformação digital em curso pode significar, para as empresas, a possibilidade de aperfeiçoar modelos de negócio por forma a aumentar a capacidade de gerar valor, baixar custos operacionais e até adaptar a oferta de produtos e serviços por forma a estarem mais alinhados com as necessidades em constante mudança dos seus clientes. Serão, por outro lado, cada vez mais os negócios a nascer em resultado da inovação tecnológica, com modelos de negócio desenhados de raiz neste novo enquadramento.

A transformação digital é essencial para as empresas que querem continuar a ser competitivas nesta nova era. Tem o potencial de revolucionar indústrias, alterar modelos de negócios, trazer novos desafios e riscos, mas, sobretudo, criar importantes oportunidades de crescimento.