Tecnologia e Inovação

O admirável mundo dos algoritmos

O conceito de algoritmo entrou no nosso dia a dia, sobretudo através das redes sociais. Sabemos que o salto de gigante nos algoritmos e inteligência artificial veio mudar as nossas vidas e ditar boa parte do que chega até nós. Ao pesquisarmos algo num motor de busca ou num site, fazermos scroll ou colocarmos um ‘likes’ nas redes sociais, estamos a fornecer dados que vão influenciar o que chega, mais tarde, até nós através desses mesmos veículos de acesso à informação.

Num mundo cada vez mais influenciado por algoritmos concebido em códigos, dependemos hoje diariamente desta tecnologia, seja quando usamos o telefone, chamamos um táxi, consultamos o youtube, procuramos o melhor percurso para o trabalho ou quando nos colocam à frente sugestões de amigos para seguir nas redes sociais. No entanto, estima-se que apenas uma em cada 500 pessoas tenha algum tipo de conhecimento – básico – sobre como funcionam exatamente os algoritmos.

A grande maioria dos algoritmos com que interagimos são produto do ‘machine learning’ – um ramo da inteligência artificial que trata da capacidade de as máquinas aprenderem, ligarem informação e retirarem resultados. No âmbito tecnológico e computacional, os algoritmos surgiram mesmo com o desenvolvimento da inteligência artificial.

Atualmente existem já centenas de milhares de algoritmos, número que continuará a crescer à medida que forem surgindo novas necessidades e aplicações e que o desenvolvimento e investigação em áreas como a ciência da computação e matemática forem avançando. Por ora, estão ainda longe de ter uma resposta eficaz para tudo, mas esta é uma realidade que está a mudar a cada dia que passa.

Como funcionam os algoritmos?

Todos os dias, em todo o mundo, são geradas quantidades cada vez maiores de dados, vindos de todos os lugares e áreas, quer sejam dados das empresas, das redes sociais, dos sensores da ‘Internet of Things’ e de tantas outras origens.

O que os algoritmos fazem, maioritariamente graças ao ‘machine learning’, é converter esses dados em informação que vai permitir automatizar, personalizar e fazer previsões complexas.  No fundo, geram conjuntos de instruções que permitem resolver problemas específicos ou realizar tarefas. Simplificando, é semelhante ao que acontece, por exemplo, quando seguimos as instruções de uma receita para fazer um bolo. Com os algoritmos, capacitam-se os computadores – em vez dos humanos – para resolver problemas, reconhecer padrões e formular hipóteses. Boa parte dos algoritmos são escritos em linguagem de programação e são o ‘cérebro e coração’ dos programas de computador.

Depois, dentro dos algoritmos associados ao ‘machine learning’, existem vários tipos, residindo aí parte dos desafios que enfrentamos. Existem os supervisionados, ou seja, aqueles cuja aprendizagem implica supervisão humana para ensinar o algoritmo. Nos não supervisionados, a aprendizagem acontece via inteligência artificial, permitindo aos computadores aprender processos e padrões. Já na aprendizagem por reforço, os algoritmos vão aprendendo a atingir metas ou maximizar resultados ao longo de várias etapas. Ou seja, aprendem com a experiência.

Os riscos 

A falta de regulação, a fraca qualidade dos dados e os perigos da desinformação e manipulação são alguns dos riscos associados aos algoritmos. Figuras como o próprio Elon Musk, fundador da Tesla e atual dono da rede social X (antigo Twitter), veio recentemente apelar a uma maior supervisão e regulação dos algoritmos. Não o fazer pode levar a erros significativos com danos elevados.

De resto, a sombra das manipulações eleitorais como o Cambridge Analytica ainda paira sobre o mundo. Foram recolhidas informações detalhadas de 87 milhões de utilizadores do Facebook, utilizadas por políticos para influenciar a opinião pública e os resultados de votações com o Brexit ou de eleições como a de Donald Trump. Os algoritmos podem ser terrenos férteis para fazer propaganda e espalhar ‘fake news’.

E, mesmo sem manipulação humana, o design ou implementação inadequada de um algoritmo pode levar a resultados incorretos, com tudo o que isso implica em termos de potenciais danos causados.

Por outro lado, os algoritmos podem contribuir para a discriminação e prevalência de determinadas culturas em detrimento de outras. Basta lembrar que são, na sua maioria, criados em países com necessidades e perfis de pessoas específicos, como é o caso dos que compõem o mundo ocidental desenvolvido. Face a esta falta de diversidade, defende-se cada vez mais que os algoritmos sejam mais representativos da variedade que existe no mundo.

A complexidade é outro dos desafios dos algoritmos, fruto da sua crescente sofisticação. A essa mesma sofisticação tendem a estar associados custos de manutenção superiores, nomeadamente com as atualizações que asseguram que estes permanecem relevantes e eficazes. Acresce que alguns algoritmos implicam, pela sua complexidade, um uso bastante intensivo de recursos.

Escusado será dizer que outro dos desafios dos algoritmos são as suas limitações, ou seja, a possibilidade de não serem suficientemente eficientes, dando origem a soluções claramente abaixo do ideal.

Por outro lado, e porque a conveniência é um dos grandes atrativos dos algoritmos, estamos, de dia para dia, a caminhar mais para a terceirização de decisões importantes para a tecnologia, com todos os riscos que tal movimento comporta.

E os benefícios?

Se houver mais e melhor regulação e nos focarmos nas vantagens, é fácil perceber que estas são mais que muitas. A capacidade e precisão da análise de dados, busca de padrões (como, por exemplo, perfis de compra) e deteção de erros de um algoritmo é, por regra, de uma fiabilidade extrema. Não é por acaso que se está a tornar essencial em quase todas as áreas.

Os algoritmos têm sido fundamentais para impulsionar avanços notáveis ​​no campo da ciência da computação. Algumas das descobertas e avanços notáveis ​​nesta área não teriam sido possíveis sem o uso de algoritmos. 

Por outro lado, a evolução e o refinamento dos algoritmos têm sido fundamentais para a progressão da própria tecnologia, na medida em que permite que máquinas e equipamentos possam enfrentar tarefas complexas com maior eficácia.

automatização de tarefas tem provado, em vários casos, ser mais eficaz do que a sua realização por humanos, revelando-se uma das grandes vantagens dos algoritmos. O facto de permitirem agilizar processos faz com que tendam também a permitir soluções mais rápidas e otimizadas. Tudo isto contribui para uma redução de custos, nomeadamente ao diminuir a necessidade de intervenção manual, e otimização de recursos, canalizando-os para tarefas em que o ser humano constitui uma maior mais-valia.

Acresce que são um precioso instrumento de reprodutibilidade, dada a sua capacidade de produzir resultados consistentesquando fornecidos os mesmos inputs. Permitem ainda resolver problemas complexos de forma mais eficaz, graças ao recurso, por exemplo, a abordagens sistematizadas.

De referir também que, num mundo em que o volume de novos dados gerados todos os dias é gigante, os algoritmos são bastante úteis na gestão dos mesmos e respetiva geração de informação relevante.

Sabemos há muito que informação é poder e que, portanto, o caminho das empresas para lidar com os algoritmos, acautelar os riscos e tirar deles o máximo benefício passa por conhecer melhor como funcionam e que possibilidades têm. Tal ajudará a ditar quem permanecerá mais competitivo no mercado, pelo papel que possui na identificação de tendências, antecipação de mudanças no mercado e otimização de estratégias e modelos de negócio. Com a vantagem de que não é necessário ser-se um gigante empresarial para se poder recorrer a esta ferramenta de gestão. Empresas de pequena ou média dimensão podem, e devem, também tirar partido dos algoritmos.