Tecnologia e Inovação

Inteligência Artificial: Qual é a estratégia para Portugal?

A Inteligência Artificial (IA) faz cada vez mais parte das nossas vidas e assim irá continuar, embora a velocidade a que a inovação se dá nem sempre seja fácil de acompanhar. Os progressos na capacidade de processamento, na disponibilização e tratamento de grandes quantidades de dados e no desenvolvimento dos algoritmos estão entre os grandes marcos desta tecnologia.

Apesar dos inúmeros benefícios associados, a IA vai sendo alvo de alguma desconfiança pelos potenciais efeitos prejudiciais temidos, sendo fundamental a introdução de mais regulação que previna o uso irregular de dados ou a violação de princípios éticos, entre outros potenciais problemas. No entanto, é também importante ter presente que a IA pode em muito contribuir para aumentar a produtividade e eficiência das empresas e para a comodidade, bem-estar e qualidade de vida dos cidadãos, em áreas tão distintas como a agricultura, a medicina, a indústria automóvel ou a publicidade.

Portugal tem um programa, anunciado em 2019 e com objetivos a cumprir até 2030, destinado a dinamizar o uso e desenvolvimento destas novas tecnologias, enquadrado no plano de ação da União Europeia para o efeito e à semelhança dos demais estados-membros. A ‘Estratégia Nacional de Inteligência Artificial’ visa promover o ensino, investigação, inovação e desenvolvimento de produtos e serviços assentes nestas tecnologias. Curiosamente, as empresas portuguesas são já das que mais recorrem à IA na sua atividade. 

A IA, recorde-se, consiste num vasto conjunto de tecnologias capazes de reproduzir competências semelhantes às do ser humano no que diz respeito, por exemplo, ao raciocínio, aprendizagem, planeamento, tomada de decisões ou resolução de problemas. Tal é normalmente feito através do processamento de grandes quantidades de dados e da busca por padrões – através da análise, por exemplo, de ações anteriores – que ajudam a modelar a tomada de decisões e o fornecimento de respostas ao interlocutor.

A estratégia portuguesa para a IA

A ‘Estratégia Nacional de Inteligência Artificial’ pretende desenvolver as inúmeras potencialidades da IA, tanto na economia como na sociedade, em áreas como a energia sustentável, a saúde, cidades, florestas e oceanos, a condução autónoma e a mobilidade. Tal deverá estar aliado ao reforço da investigação nesta área e à aposta na qualificação da mão-de-obra.

São sete os grandes pilares de atuação previstos nesta estratégia: a inclusão e educação (disseminação generalizada do conhecimento em IA), a qualificação e especialização, a investigação e inovação, a modernização da administração pública, a aposta em áreas com impacto internacional, a ética e segurança, o investimento em novos desenvolvimentos e áreas de suporte em redes europeias e Internacionais e o foco na pesquisa fundamental para a IA do futuro.

Como fatores críticos de sucesso desta estratégia estão identificadas áreas como o desenvolvimento de competências em IA na população (através da promoção da educação, da aprendizagem ao longo da vida e da atração de talentos) e uma economia de serviços de IA destinada à criação de um mercado de dados e de modelos de IA. Foi igualmente previsto o aumento do número de patentes e multiplicação de negócios assentes em inovação, com base em IA, assim como a maior atração de talentos especializados em IA e o aumento de publicações científicas em matérias de IA em redes internacionais de pesquisa de excelência. O crescimento dos níveis de qualificação e de empregos nesta área é também considerado um fator crítico de sucesso.

Esta estratégia, cuja e tem igualmente a ambição de fomentar o país enquanto laboratório vivo de experimentação de novos desenvolvimentos, em matérias como cidades, energia, biodiversidade, economia verde e azul, condução autónoma, cibersegurança, saúde e indústria. Pretende-se ainda reforçar a colaboração entre a academia e os setores empresariais público e privado, neste âmbito da IA, e, numa outra esfera, utilizar esta tecnologia para aperfeiçoar a qualidade dos serviços públicos prestados a cidadãos e empresas.

A estratégia portuguesa para a inteligência artificial faz parte de um plano global destinado a impulsionar a transição de Portugal para o digital, promovendo o empreendedorismo, os veículos de inovação e experimentação, incentivos e apoios.

Assim, e para além da ‘Estratégia para a Inteligência Artificial’, existem também programas estratégicos próprios para as áreas de dados, blockchain, segurança do ciberespaço e a computação avançada.

De olhos postos em 2030

A estratégia definida em 2019 foi traçada tendo como meta atingir um conjunto de objetivos – qualitativos – até 2030. Entre eles está o facto de conseguir que o valor acrescentado trazido pelas tecnologias de IA para o crescimento económico passe a ser significativo, melhorar a posição de Portugal na investigação e pesquisa fundamental e aplicada de IA, aumentar consideravelmente as qualificações da mão-de-obra (sobretudo as tecnológicas), aumentar, de forma significativa, em número e volume, as empresas de IA e estender a consciência das capacidades e utilizações possíveis da IA a toda a sociedade.

Um mundo de utilizações possíveis

São muitas as áreas em que a IA já é utilizada, mesmo que nem sempre nos demos conta desse mesmo contributo. 

É o caso das habitações, cidades e outras infraestruturas, em que, graças aos termóstatos inteligentes, por exemplo, é possível monitorizar o consumo de energia, da mesma forma que, no trânsito, se pode conseguir controlar melhor o tráfego automóvel, reduzindo os engarrafamentos. No próprio fabrico dos automóveis, muitas funções de segurança já são alimentadas por IA, nomeadamente na deteção de situações de perigo que possam resultar em sinistros.

Na área da saúde, esta tecnologia pode, por exemplo, ajudar a reconhecer infeções e outros diagnósticos. Na investigação nesta área, podem existir muitas vantagens, nomeadamente em resultado da capacidade acrescida de processar grandes quantidades de dados e deteção de padrões.

Um exemplo porventura mais clássico e conhecido é o do e-commerce e compras online. Graças à IA é possível fazer recomendações de compra personalizadas aos consumidores e, nos motores de busca, fornecer resultados relevantes para quem está a pesquisar. Nos bastidores das empresas, planear de forma mais eficiente os inventários e a logística, otimizar processos de fabrico ou prever necessidades de manutenção de equipamentos são algumas das utilizações.

A IA veio impulsionar também as funcionalidades e qualidade dos chamados assistentes pessoais digitais, através dos quais as pessoas podem ter resposta para as suas questões, obter informações, ter apoio na gestão do dia-a-dia, entre tantas outras possibilidades.

Na cibersegurança, a IA pode ser crucial na deteção de ataques cibernéticos e na minimização de danos de maior. O mesmo se pode aplicar ao problema da desinformação, já que existem aplicações e outras ferramentas que conseguem detetar notícias falsas e rastrear fontes duvidosas. Outra utilização destas tecnologias são as traduções automáticas de textos escritos ou falados ou na legendagem automática de vídeos.

Por mais reticências que se possa ter, a IA já não é só o futuro, mas sim o presente. E, se é verdade que há que acautelar riscos e danos, as vantagens podem ser muitas e esse será um foco muito mais construtivo para se encarar a presença destas novas tecnologias nas nossas vidas.

Se bem utilizada, salvaguardando o cumprimento da lei e a ética, será sinónimo de inúmeras oportunidades e fonte de maior qualidade de vida para as pessoas e maior eficiência para as empresas e restantes organizações. Ao mesmo tempo que abre mais espaço para que o ser humano possa dedicar-se mais em pleno a tudo o que o diferencia e que nenhuma máquina algum dia irá substituir.